quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Liberdade

Abaporu - Tarsila do Amaral 1928


Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa 


Simplesmente adoro esse poema, ele parece muito comigo! Uma das coisas que mais gosto é não ter compromisso, sou muito responsável, mas acho que o bom da vida é fazer o que dá na telha momento a momento... Seria muito bom que não precisássemos de "dever" nada. 

Usufruir a vida no mais puro que ela tem é um privilégio dos poetas, uma coisa que ando fazendo muito! Amém!

O quadro de Tarsila eu também gosto, lembra essa leseira do descompromisso, ficar ao sol, lagartixando...Só no deleite de existir.

Ah! Foi da assinatura de F.Pessoa que me inspirei para minha própria assinatura.

Para saber mais clique:
Abaporu
Tarsila do Amaral
Fernando Pessoa

2 comentários:

Anônimo disse...

li todo o blog, muito bom

Nanda Botelho disse...

Anônimo:

Obrigada e volte sempre!!!!

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